sexta-feira, 14 de dezembro de 2012



A Procura do Timbre Perfeito

Desde 2010 eu trabalho na ExpoMusic com especialista de produtos.  

Durante a feira sempre tenho a oportunidade de fazer um test-drive nos produtos, o que me deixa extremamente empolgado e às vezes até emocionado por ter a chance de tocar em instrumentos que são sonhos de consumo. 

Agora tem uma coisa que não é tão legal. Quando termina a feira e tenho que voltar a realidade dos meus equipamentos, me bate uma depre pesada.  Na verdade meus equipamentos não são ruins, mas comparado aos do estande que trabalho a qualidade é bem inferior. 

Lembro que na ultima expo fiquei me perguntando: Porque não tenho um equipamento top desses???    A resposta veio na mente imediatamente: Por causa do preço!Calculando o meu salário como músico, demoraria bastante tempo para adquirir equipamentos tops, além do que nem sei se compensaria ficar carregando amplificadores e guitarras de 10 mil reais para tocar em bares que pagam em média 100 reais por apresentação.

Depois disso passei a pensar nos equipamentos de colegas músicos que tem uma realidade financeira parecida com a minha, e percebi que todos também usam equipamentos medianos.
Então, se a maioria dos músicos profissionais usam equipamentos medianos, com quem está os equipamentos tops?

Uma observação importe que fiz durante a feira pode responder essa pergunta. Percebi que grande parte das pessoas que visitavam o estande em que estava trabalhando  eram pessoas que já tinham algum produto da marca, e iam só pra falar bem e compartilhar experiências que tiveram com os amplis. 

Com isso, passei a traçar o perfil dessas pessoas e foi quando caiu a ficha.  A grande maioria das pessoas que usam equipamentos tops não são músicos profissionais, e sim pessoas de outras áreas como médicos, engenheiros, advogados etc, que são entusiastas e tem dinheiro para adquirir equipamentos de qualidade.  Claro que existe a minoria dos músicos que tem equipamentos tops, aqueles que tocam em gigs com cantores famosos, os que são endorses, os que deixaram de se alimentar pra comprar a “guitarra dos sonhos” e os que têm “pai trocinio”.  

A questão é que a maioria dos músicos profissionais não tem acesso a instrumentos top.  Nada contra quem tem dinheiro, mas acho que o correto seria esses equipamentos estarem na mão de quem realmente precisa deles.   

Acho tudo isso muito triste, infelizmente o governo cobra taxas abusivas e absurdas na importação dos instrumentos, somado ao lucro da loja que vai vender o produto o preço triplica em relação ao valor dele fora do país. Quem ganha em média R$100 reais pra tocar na noite não tem condição de comprar uma Gibson de 10 mil reais.

Uma alternativa talvez fosse usarmos os instrumentos nacionais, mas todos sabem da péssima qualidade da maioria (salvo alguns feitos por luthier que são equivalentes a instrumentos importados). 

Enquanto não houver uma mobilização para pressionar o governo a rever as taxas de importação, continuaremos nessa, se virando como pode e gastando toda nossas economias de anos para comprar um instrumento decente!

Cafuringa


Ontem toquei com o Originais Do Gueto no CEU Cantos do Amanhecer, localizado no Jd. Eledy - região do Campo Limpo/ Capão Redondo(Z/S de Sampa) , que é o bairro onde moro desde os meus 7 anos.
Pra quem não sabe, o CEU foi construído sobre um campo que era conhecido como Cafuringa. 

Enquanto estava no camarim esperando a hora de subir no palco, refletia como aquele pedaço de chão fez parte da minha vida, posso dizer que passei boa parte da minha infância e adolescência ali naquele campo. Como toda criança normal eu sonhava em ser jogador de futebol. 

Passei momentos muito bons lá, frequentava a escolinha de futebol do Mauro, ia pra la jogar timinho, três dentro três fora, linha... Domingão ia lá pra assistir os jogos dos times da quebrada, Eledy, Atlântica... Quando os dois se enfrentavam sempre rolava uma treta durante o jogo, agente ia pra torcer já contando com a briga que era certa que ia rolar! Depois do jogo todo o time do Atlântica ia comemorar no bar da Dna Lurdes, que ficava em frente minha casa. Eu e toda a molecada ficávamos juntos achando o máximo aquela festa. Quem lembra? Tiago Almeida Tnv Gilmar Dias Toninho Martins

Mas ali naquele campo também passei momentos de tensão. Quantas vezes estava lá jogando bola e derrepente tive que sair correndo de tiroteios. Uma simples discussão no jogo as vezes acabava em morte. Agente ouvia o primeiro tiro e corria deseperadamente. 5min depois voltávamos para ver o presunto. Coisas de moleque. Perdi as contas de quantas pessoas foram assassinadas ali. 

Também usava o campo para cortar caminho para ir pra escola. Posso dizer que passei ali de segunda a sexta durante 11 anos! 

Hoje sobre aquele campo de terra batida temos um teatro, biblioteca, piscina.... uma escola! Quem vê hoje aquele complexo educacional não imagina a história que tem aquele lugar. 

Se aquele pedaço de chão falasse, teria muita história pra contar...